Dados do Trabalho

Título

Infarto agudo do miocárdio em puérpera: diagnóstico e tratamento de um caso raro de dissecção espontânea de coronárias.

Resumo

Introdução: A dissecção espontânea de coronária (DEC) é definida como a separação não traumática e não iatrogênica das camadas que compõem a parede arterial. A DEC é uma causa rara de isquemia aguda do miocárdio, sendo que pode se manifestar como angina instável, infarto agudo do miocárdio ou morte súbita. Ocorre predominantemente em mulheres, sendo que há uma associação empírica entre dissecção coronariana e gravidez. Isso se deve a variações hormonais, que influenciam na composição do vaso. Junto as alterações hemodinâmicas, as artérias coronárias tornam-se mais susceptíveis.
Descrição do caso: Paciente de 36 anos, puérpera de 10 dias, parto cesárea, sem intercorrências. Admitida com dor torácica retroesternal de forte intensidade com irradiação para o membro superior esquerdo durante a madrugada, enquanto dormia, com alívio espontâneo após 40 minutos. Previamente hígida, sem antecedentes de cardiopatias ou história familiar de doença aterosclerótica. Eletrocardiograma sinusal, com sinais de sobrecarga ventricular esquerda e infradesnivelamento do segmento ST nas derivações V4, V5 e V6 no momento da dor, com normalização da repolarização ventricular esquerda após alívio da dor. Troponina ultrassensível positiva (11 ng/ml - referência <0,120). Diante destes achados, algumas hipóteses foram abordadas, infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST, tromboembolismo pulmonar (TEP) e dissecção aguda de aorta (DissAo). Após angiotomografia de tórax descartar TEP e DissAo, optou-se pela estratificação invasiva com cineangiocoronariografia em 24h, que evidenciou a redução importante da luz vascular da artéria descendente anterior e do grande ramo marginal esquerdo, porém com fluxo preservado (TIMI III) e sem alterações contráteis à ventriculografia esquerda. Após discussão com as equipes de cardiologia e obstetrícia, optou-se pelo tratamento conservador. Desde então, a paciente segue em acompanhamento clínico, assintomática, em uso de ácido acetilsalicílico e clopidogrel, com retomada do aleitamento materno.
Conclusão: Apesar de rara, a DEC é a principal causa de síndrome coronariana aguda no período periparto, por isso, deve ser lembrada na abordagem etiológica de dor torácica. O tratamento conservador, geralmente, é a opção mais segura e eficaz, exceto, em casos de isquemia miocárdica persistente e/ou choque cardiogênico, quando a intervenção percutânea pode ser considerada. O seguimento clínico é fundamental para prevenção de novos eventos.

Palavras Chave

Dissecção; Doença da Artéria Coronariana; Puerpério.